OS ANOS DOURADOS: TECNOLOGIA E ORGANIZAÇÃO (1945-1960)

No século XIX o motor do desenvolvimento técnico-científico fora a Europa – em particular a França, a Inglaterra e a Alemanha. No pós-guerra (1918) há duas realidades no Ocidente: uma Europa destruída e uma América forte e em forte aceleração económica e técnico-científica. Essa realidade geral vai reflectir-se em todos os domínios, incluindo o laboratório de análises clínicas.
Mas o laboratório em si não sofre grandes mudanças nos anos entre Guerras. Em 1948, no fim da Segunda Guerra, não difere muito do laboratório de 1925, excepto pelo colorímetro foto-eléctrico. Outros equipamentos disponíveis: centrífugas, banhos-maria, microscópios, balanças, o pH meter de Beckman e o aparelho de gasimetria de Van Slyke.
Na altura, a hematologia, a microbiologia e a análise da urina são de longe mais importantes para a medicina do que a química clínica do sangue. A função tiroideia é avaliada pela taxa de metabolismo basal. A pesquisa da gravidez é feita por bio-ensaios com rãs, coelhos e ratos. Enzimas disponíveis para doseamento: amilase, lipase, fosfatase alcalina e fosfatase ácida. A ideia de controlo da precisão analítica consiste em realizar análises em duplicado.
Nas duas décadas que se seguem à 2ª Guerra Mundial, contudo, há uma explosão de energia, criatividade, iniciativa, organização – qualquer que seja o nome que se lhe dê, facto é que há um progresso generalizado e explosivo em todos os domínios da tecnologia e da ciência aplicada. No laboratório também. Muitos historiadores definem os anos entre 1948 e 1960 como uma época dourada da química clínica. São anos marcados, não tanto pelo progresso do conhecimento médico, da fisiologia e da fisiopatologia, mas pela irrupção da inovação tecnológica (o tubo de vácuo, a electroforese, os kits pré-feitos, a enzimologia diagnóstica, o RIA e o autoanalisador) e o desenvolvimento de organizações capazes de definir padrões de trabalho e de qualidade (são fundadas a American Association of Clinical Chemistry e a International Federation of Clinical Chemistry, são formuladas as primeiras normas de orientação clínica e lançados os primeiros programas de Avaliação Externa da Qualidade).

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